quinta-feira, 2 de junho de 2011

Niterói: um passeio pelo século XIX.

A imagem que ilustra o título deste blog é uma adaptação de “Vista Geral do Rio de Janeiro tomada da enseada da Praia Grande”, pintura de Jean Batiste Debret, desenvolvida em 1835. A Praia Grande, localizada em Niterói, é local hoje aterrado onde está situado o centro da cidade.
A pintura de Debret é uma obra de arte e um documento histórico que nos permite “ver” uma parte do passado da cidade.
Outras imagens nos permitem fazer o mesmo. Aquelas que vêm a seguir datam de pelo menos cem anos atrás, e estão, originalmente, expostas em Museus de Arte e organizadas em arquivos digitais no site Wikimédia Commons, de onde foram retiradas - salvo indicação em contrário.

Como localizar estes espaços da antiga Niterói dentro daquelas imagens com as quais estamos familiarizados? Esse é um exercício que pode ser interessante, tomando como referência o contorno das montanhas – além de ler as legendas.

 “Panorama de Niterói”, por Antonio Parreiras, em 1892.

Ao fundo, as montanhas do Rio de Janeiro: o Pão de Açúcar, à esquerda.
Achei difícil a identificação do local, principalmente por não estarmos acostumados a  ver imagens panorâmicas da cidade em posições parecidas. Daí, a pergunta: em que morro Parreiras se posicionou para pintar esta paisagem, partindo do princípio que a mesma representa a área central da cidade?
Há dois espelhos d’água ao centro da imagem que não existem no local hoje (antiga Praia Grande). A rua mais larga ao centro, não deve ser a Av. Amaral Peixoto, pois a mesma só foi aberta em 1942, “remembrando e desmembrando terrenos” (fonte: NiteróiTV). Já o conjunto de construções na parte central da imagem, acredito que seja da Catedral de São João, concluída em 1854 (fonte: Nitivista).
Considerando correta esta análise, a minha conclusão é que o pintor posicionou-se em uma área do Morro de São Lourenço para pintar esta paisagem, conforme aponto, com uma circunferência em cor laranja, na imagem de satélite abaixo (original no Google Earth).

 O ponto laranja representa a Catedral de São João. A linha amarela representa o contorno aproximado do litoral original da região entre o Bairro do Gragoatá (esquerda) e a Ponta da Armação. O ponto amarelo localiza a casa do pintor Antonio Parreiras, hoje Museu.

As imagens abaixo acompanham um roteiro que segue a linha de contorno, da direita para a esquerda e além, acompanhando o litoral da cidade. Através delas você pode exercitar a localização.

 1- "Ponta da Armação em Niterói", de Henri Chamberlain, em 1819/1820.
 
O nome "Armação" origina-se do fato que o local era utilizado para aparelhar os navios para a pesca da baleia que era praticada na Baía de Guanabara.
Fato que pode ser comprovado através da imagem abaixo.
 2- "Pesca da Baleia", de Leandro Joaquim, aproximadamente em 1875 
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À esquerda, os edifícios antigos que integram o Complexo da Ponta da Armação.(Informação de Marinha do Brasil)

 3 - “Revista de tropas brasileiras destinadas à Montevidéu na Praia Grande”, de Jean Baptiste Debret, por volta de 1816

 4 - “Gragoatá, depois da trovoada”, de Antonio Parreiras, em 1886. 

Repare que ao fundo está o Rio de Janeiro. Obeseve, à direita das palmeiras, o contorno do Pão de Açúcar.
O nome do local vem de uma planta chamada Gravatá, que ali era abundante. (fonte: Wikipédia)

5-  “Ilha da Boa Viagem”, de Johann Georg Grimm, em 1884.

 6- “Praia da Boa Viagem”, de Hipólito Boaventura Caron, em 1884.

 7- “Marinha com Canoas”, de Hipólito Boaventura Caron, em 1884.
(Praia das Flexas e o promontório onde se situa hoje o Museu de Arte Contemporânea – MAC).

 
 8- “Vista da Entrada da Baía do Rio de Janeiro tomada da Praia de Icaraí em Niterói”, de Henri Nicolas Vinet (1816-1876), sd. (Repare a Pedra de Itapuca, abaixo, à direita).

9- “Paisagem em Icaraí”, de Domingo Garcia e Vasquez, cerca de 1901.

A construção na área central, à esquerda, parece ser a Igreja Porciúncula de Santana considerando a posição do frontão e da torre, a praia de Icaraí estaria ao fundo, encoberta pela vegetação – também não há nenhum morro nesta direção.
 
Para finalizar, duas versões de um mesmo tema: a ponta do Morro do Cavalão.
 10 - “Ponta do Cavalão”, de Domingo Garcia y Vasquez, em 1883

 10 A- “Vista do Cavalão”, de Johann Georg Grimm, em 1884.

Abaixo, na imagem de satélite (Google Earth), a provável localização dos pintores ao retratarem suas obras - com exceção para “Pesca da Baleia”, que localiza a parte retratada da Ponta da Armação.